Quando pequena, ouvi dizer que, para ser eternizado na História do Mundo – sim, essa com H maiúsculo – alguém tinha que fazer uma destas coisas: plantar uma árvore, escrever um livro ou ter um filho.
Decidi que queria escrever livros aos seis anos de idade. Mas foi apenas na idade adulta que percebi que poderia fazer disso uma carreira de vida e que o sonho de infância poderia me gerar lucros que sustentariam o meu viver.
Hoje, muita coisa já se passou e, com certeza, muita coisa mudou na cabeça da antes menina que sonhava em ser escritora que nem Pedro Bandeira ou Ruth Rocha! Eu hoje sou escritora que nem eu mesma, Gabriella Maciel, jornalista, consultora de escrita e autora publicada.
Mas, independentemente da nomenclatura que me deem ou o rótulo que me descreva a cada tal momento, a paixão pela escrita foi algo que foi uma constante de mim. Ser eu sempre significou amar as palavras, mesmo que nem sempre estivesse a ler ou a escrever.
Estou escrevendo mais um livro da minha carreira e, agora, quando vivo algo, escuto meus avós contarem uma história, vejo uma cena inusitada na rua ou ouço uma conversa interessante num restaurante, minha mente vagueia e para direto nas folhas do meu caderno… tudo vira história, tudo vira livro.
Aos poucos, parei de tentar fantasiar mundos alternativos e personagens mirabolantes, com poderes sobrenaturais e histórias extraordinárias… e passei a perceber o mundo real, esse em que vivo; com todos os personagens que já existem na minha vida e com quem cruzo rotineiramente, com poderes tão comuns e medíocres que chamam só de “faz parte de ser humano”; mas uma coisa em comum: história fascinantes, talvez até ainda mais extraordinárias que minha mente jamais poderia criar igual.
O que é a História do Mundo e da Humanidade, afinal de contas, senão o registro da história de muitos e muitos seres humanos, no decorrer do tempo, ao redor do espaço, de toda forma possível e imaginável que há de se registrar o viver?
Quando falo sobre o que faço, costumo, vez ou outra, escutar um “eu não teria história suficiente para escrever um livro”, e rebato que tem, sim! Todo mundo tem uma história. Se duvidar, bebês recém-nascidos, se falassem, seriam capazes de contar incríveis histórias – já imaginou como deve ser absolutamente fantástico toda a experiência de nascer? De ver as coisas pela primeira vez, provar comidas, sentir cheiros, ser pego no colo pelos seus pais… a primeira ida à escola, a primeira vez que comeu um sorvete ou a primeira vez que sentiu vontade de rir até gargalhar.
Fato é que bebês não falam – e por isso, não escrevem histórias. Apesar disso, ainda há os adultos que observam meticulosamente e contam as histórias dos bebês para eles mesmos, quando crescem. Ou vai dizer que nunca ouviu histórias suas do passado, narradas por pais, avós, tios ou primos?
Isso acontece porque viver é criar histórias, e histórias nada mais são senão o registro do que vivemos. Seja na intensidade, ritmo, nível de poesia que você queira dar ao seu!
Nesse sentido, eu acredito que Fazer História é registrar a vida. Porque é no registro, na escrita e na publicação de nossas histórias, que entramos para a História do Mundo. É através destes documentos que marcamos nosso legado no mundo, contamos o nosso ponto de vista, partilhamos com quem amamos o que vivemos, e ainda registramos nossos sonhos, damos materialidade para nossos desejos e paixões.
Entende o que digo? Escrever e publicar um livro com suas histórias, nada mais é que contribuir com a História do mundo. É ajudar a registrar a sua passagem nesse tempo, é contar do passado, do presente e dos desejos de futuro para quem ainda nem mesmo nasceu, é deixar um tiquinho de nós para sempre vivos, esperando que alguém pegue o livro com um gostoso saudosismo na estante e relembre de nós.
Eu, que não sou boba nem nada, estou fazendo minha parte. Sigo vivendo, criando histórias e registrando-as, a todo instante, deixando meu legado marcado no meio mais concreto e eternizado que conheço: as páginas dos livros.
Gabriella Maciel – Consultora de Escrita