Eu sou escritora. Por conta disso, é comum acontecer de algumas pessoas virem compartilhar comigo seus escritos ou experiências com a escrita – tipo quando um médico sempre é perguntado sobre dores e caroços aleatoriamente, no meio de todo e qualquer rolê que vá.
Não sou médica, mas há quem diga que a escrita é o melhor remédio da alma, então talvez por isso tamanha identificação as pessoas costumam ter comigo, só de me saber escritora.
Certa vez, um senhor de cabelos já grisalhos sentou próximo a mim numa festa de despedida e disse, baixinho:
— Você que é a escritora, né?!
Eu ri um riso aberto, como sempre faço quando me perguntam isso, e confirmei. Ao que ele soltou essa:
— Eu tenho tanta coisa escrita. Nunca tive coragem de publicar… fico pensando em quem vai querer ler algo que fiz… ninguém nem me conhece…
O que eu disse para ele, foi o que eu sempre digo para todos que me trazem esse pensamento. Foi o que eu disse para mim mesma quando na ocasião da minha primeira publicação – que sempre foi um sonho e, mesmo assim, quando vi as caixas de livro chegando, inevitavelmente pensei nisso também…
“Publique. Não tenha medo e publique. Publique logo, amanhã, se puder! O livro é algo que transborda. Não há nunca como ter real noção de onde um livro pode chegar. De que íntimos ele vai alcançar, de que desejos ele vai suprir, que dores ele vai acalentar ou que necessidades vai servir. O livro é um dos únicos objetos físicos que conheço que transbordam e ultrapassam todos os limites que possamos imaginar que ele tem. Porque ele não tem! O livro não obedece aos limites, nem os vê. Ele viaja fronteiras físicas, geográficas e outras, inimagináveis para nós. Escrever é deixar mensagens para outras almas, que, precisando, vão encontrar. Vão encontrar nos livros escritos por nós as mensagens que suas almas precisam ouvir. Quando menos esperar, você vai se reencontrar com um livro seu que viajou o mundo e passou por aventuras que você nem mesmo foi capaz de elucubrar. Livro tem vida própria, viaja, se empresta, se risca, se presenteia, se rouba, se lê, se perde, está lá, pronto para ser achado para quem precisar dele. Escreva, publique, permita ao mundo mais esse ser um tanto quanto mágico a estar solto por aí, em busca de identificação de outras almas que precisem ouvir o que você tem para dizer”.
O senhorzinho ficou olhando para mim com os olhos marejados e apertou minha mão com um carinho que não poderia descrever nem se soubesse. Talvez, no mundo, ele esperasse que eu dissesse a ele que “é verdade, talvez esse gênero não venda tanto” ou “o mercado talvez não absorva seu livro”. Essas coisas que nosso auto sabotador vive dizendo para impedir o livro de sair. Mas não. Eu não poderia dizer nenhuma dessas coisas. Porque, ao falar de livros, elas não existem. Os livros vão sempre achar seus leitores, e isso é algo em que acredito piamente – até mesmo, porque já vi acontecer comigo mesma, com meus escritos, meus livros. Mas isso é assunto para outro post!
Gabriella Maciel