Lá vem o seu Joãozinho, o poeta.
Era assim que eu via e ouvia muitas pessoas anunciando a chegada do meu avô materno aos locais por onde ele passava.
Com seus cabelos já brancos, os olhos azuis e o andar de passos curtos, seu João de Almeida era um pastor por formação e vocação, mas também um apaixonado por poesia e pela língua portuguesa. Apesar de tanta cultura e conhecimento que carregava consigo, devido ao notável hábito da leitura, ele jamais se esquecia de corrigir gentilmente aqueles que o chamavam de poeta.
Por diversas vezes passei à porta de seu quarto e o flagrei ensaiando um texto de um autor que ele gostava.
De fato, os casamentos que ele costumava celebrar na igreja tinham um toque todo especial, porque eram carregados de belas poesias, que embalavam assim o clima de romance da ocasião.
Apesar de toda sua simplicidade, nos aniversários de seus amigos, o rev. João era considerado presença ilustre, porque sempre abrilhantava a noite, declamando uma bela rima.
Porém, hoje entendo que a poesia não era apenas parte da memória de meu avô. Era bem mais que isso. Por mais que ele não fosse um escritor de suas próprias rimas, ele vivia a beleza da poesia no seu dia a dia.
Fosse pela sua generosidade de tratar bem a todos da vizinhança condomínio onde morava – desde os moradores, passando pelos seguranças até os zeladores – fosse pela sensibilidade de parar para apreciar o belo canto dos pássaros que visitavam seu quintal ou até mesmo por seus momentos silenciosos de introspecção… Tudo nele tinha um ar poético, gerava uma reflexão e o inspirava ainda mais para ensinar aos filhos e netos como é possível viver a poesia na prática.
Não sei se meu avô faleceu consciente de que ele me deixou um dos ensinamentos mais preciosos, inclusive para a minha vida profissional, mas hoje, quando me lembro dele, uma das lições que me vem à memória é que para escrever bem é preciso viver, ter experiências e uma paixão por compartilhá-las.
É, vô, se o senhor estivesse vivo hoje, teria de me corrigir novamente, porque eu também insistiria que o senhor é um poeta, não por poesias publicadas, mas sim por ter vivido a poesia todos os dias.
João Neto
3 Comments
Texto LINDO e verdadeiro! Que inspiração João Neto. PARABENS!
Lindo texto, João, também tenho essas lembranças do meu sogro, Reverendo João. Já com idade avançada declamava lindas e longas poesias… como eu admirava sua memória…
Olá João Neto,
que belo texto, meu irmão, e, igualmente, o testemunho, maravilhoso! A Patrícia me fazia saber dessas virtudes do Rev. João de Almeida, tanto do encanto que, certamente, é o Casamento e como ele embelezava a Cerimônia, a ponto de Noivos preferirem ele como celebrante.
Forte abraço,
Deus o abençoe!