É manhã. Me levanto da cama com disposição e ótimas ideias para o último capítulo do meu livro. Me sento à frente do computador e castigo o meu teclado, enquanto meus dedos tentam acompanhar meu raciocínio, que parece ter recebido uma bela carga, devido aos bons goles de café, acompanhados de uma torrada com pasta de amendoim, que geralmente integram os meus menus matinais. Após esse “vomitar” de ideias e palavras nas linhas do editor de texto, reviso, organizo minhas ideias, analiso a coerência e coesão textual e pronto. Envio para o meu consultor de escrita.
— Será que meu livro vai “bombar”? – me pergunto.
Logo após fazer esse questionamento interno, começo a pensar sobre minhas próprias motivações. Afinal, quem não gosta quando um livro de sua própria autoria gera uma boa repercussão? Quem não gosta de receber elogios ou até mesmo um segundo olhar sobre a ideia exposta nas linhas publicadas? Quem não gosta das novas ideias que podem surgir a partir dos comentários, gerando assim, quem sabe, um novo livro? Sem dúvida, tudo isso é muito estimulante. Porém, não deveria ter esse “termômetro” como a minha maior motivação para escrever o meu livro.
Creio que meu combustível para me dispor a sentar à frente do meu computador para digitar a minha obra deve ir bem além da expectativa que crio sobre as possíveis reações das pessoas que a vão ler. Deveria primeiramente ser alimentada pelas ideias que quero, de fato, expor. Em um mundo ideal, essa seria, indiscutivelmente, a minha única motivação para escrever. Afinal, certos escritos eu deveria compartilhar agora, outros em um momento mais oportuno e quem sabe, outros, jamais serão compartilhados, sendo apenas o registro de um solilóquio que me fez muito bem naquela ocasião. Porém, o mundo não é ideal, a começar por mim que não o sou.
E assim, sigo me importando e me sentindo tentado a mascarar minha própria realidade, devido ao que pessoas nem tão reais assim, vivendo em um mundo real, dirão a meu respeito ou a respeito das minhas ideias. Passo então a deixar que minha própria aprovação sobre o que escrevo seja guiada pelas aprovações externas. Um erro fatal, porém factual, que me persegue a cada vez que me sento para escrever. Por mais que seja um daqueles escritos apenas para ficar em off ou que ainda está em seu estado “bruto”, passível de lapidação, sigo pensando, já em meio a um turbilhão de sensações:
— E se outras pessoas lessem isso, o que pensariam de mim?
Ao final de minha reflexão, concluo que enquanto muitos me julgariam externamente com palavras, poderiam também estar se identificando comigo internamente, com sentimentos e tudo dentro de mim se tranquiliza e volto a me lembrar que a escrita é expressão e que talvez, sempre encontrarei alguém que não esteja pronto para ler minhas expressões. Cabe a mim decidir quando, como e onde estarei pronto a fazê-lo.
João Neto – Consultor de Escrita