Ainda me lembro bem de um dia em que estava em aula prática, ainda no início da faculdade de jornalismo, recebendo as instruções da nossa professora para escolher uma das pautas disponíveis nos computadores da sala e escrever uma matéria sobre o assunto. Depois de um tempo, um dos meus colegas desabafa:
— Não consigo, professora. Essa matéria não vai rolar pra mim, porque hoje estou sem inspiração.
— Mas você só escreve quando está inspirado? Como vai fazer quando estiver trabalhando em jornal, revista ou site? Vai dizer isso ao seu chefe de redação? – ela questionou – se você só escreve quando está inspirado, então não deve escolher uma profissão que dependa disso.
Não sei como aquele estudante recebeu as palavras de nossa professora, mas confesso que tomei aquilo como um conselho muito valioso para mim e concluí: não posso depender da minha “inspiração” – aquela que parece vir espontaneamente – para escrever.
Logo depois, consegui um estágio em um portal de notícias e descobri o quão verdadeiro era aquilo que nossa professora falou: eu não poderia alegar “falta de inspiração” diante de uma pauta que precisava ser desenvolvida e transformada em matéria ou reportagem. Escrever era preciso! E escrever diariamente, estando eu inspirado ou não.
Reconheço que nem todos os textos saíram como “obras-primas”, mas em compensação, aprendi a criar um ritmo de escrita, no qual me sentar à frente do computador e desenvolver uma linha de raciocínio coesa se tornou mais fácil.
Trazendo esse conselho valioso de minha professora para a realidade de um escritor, entendo que “forçar” a escrita de um texto não parece uma boa ideia inicialmente. As palavras parecem estar presas, sem espontaneidade, sem fluidez, com a impressão de que estamos espremendo nossa mente para as ideias saírem dali e saltarem para as páginas em branco. Porém, eu proponho uma mudança de visão sobre essa tentativa de lidar com a “falta de inspiração”: não espere que ela venha por si só, faça um convite a ela.
Mas como isso pode ser feito?
Bem, sei que sentir-se inspirado é ótimo, mas vamos imaginar que a inspiração também se sente muito bem quando é bem aproveitada. E esse proveito acontece quando temos muita prática para trabalhar com ela.
Obviamente que certas atividades do nosso cotidiano podem nos inspirar: uma caminhada na praça, momentos agradáveis com os amigos, um bom filme, um bom livro. Mas também creio que um ótimo convite à inspiração é mostrar a ela que a casa está preparada para a sua chegada, que já estamos aquecidos para quando ela chegar.
Por isso, torne a escrita um hábito. Escreva, mesmo que nem sempre os textos surjam quase que de forma sobrenatural. Haverá alguns dias não tão inspirados assim, mas quando a inspiração chegar, creio que você já vai estar no ritmo da escrita, com mais fluência e com uma bela recepção para a tão esperada inspiração.
João Neto – Consultor de Escrita
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3 Comments
Que texto inspirador! Parabéns João Neto. Para mim uma quebra de pardigma! Obrigada!
Tenho acompanhado seus textos! É notável o quanto a cada dia você se torna mais habilidoso e nos inspira em suas palavras. Parabéns!
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