Em 2016, George R. R Martin, autor das Crônicas de Gelo e Fogo, que foram popularizadas pelo seriado de televisão Game of Thrones, se encontrou com Stephen King, autor de muitos sucessos como: It – A Coisa, Cemitério Maldito, The Shining, A Espera de Um Milagre…, em Albuquerque, Novo México. Quando comparamos George R. R Martin e Stephen King, os dois são opostos no quesito ritmo de escrita.
Stephen King é conhecido por ser uma máquina de escrever, de empilhar livros escritos ao passar dos meses, enquanto George leva meses, e até mesmo anos, para finalizar suas obras. Perto do final da conversa, Stephen olha no relógio e, ao ver o horário, pergunta:
— George vamos ter que encerrar em breve… existe algo que você sempre quis me perguntar? Porque, George, eu irei!
Os dois caem na gargalhada, mas George continua:
— Na verdade tem algo que eu queria te perguntar… como você consegue escrever tantos livros tão rápido? Eu acho que eu tive bons seis meses e escrevi três capítulos e você terminou três livros durante esse tempo!
E eu, assistindo o vídeo, rio com toda essa conversa, mas logo meu sorriso vai se tornando amarelado ao perceber que, Stephen terminou três livros em seis meses, George terminou três capítulo em seis meses… já eu? Eu nem sequer abri os arquivos dos meus inúmeros textos e projetos… Como pode alguém que dizer querer escrever e publicar vários livros simplesmente deixar com que essa ideia vá afundando no oceano de preocupações (e preguiças) da sua mente até ser quase completamente varrido? Será que dizer que “eu vou ser escritor” para alguém se tornou apenas um protocolo social? Um quebra gelo?
A verdade é que, assim como muitos outros, fico esperando a hora que algo desce dos céus e ilumina a minha cabeça, minha mente explode como uma supernova, o corpo estremece e vem aquela vontade selvagem, como se fosse um instinto. É quando percebo que acabo de receber uma inspiração, seja lá de onde, mas ela está aqui! E como um evento astronômico, se eu não for rápido, ela vai passar e eu não vou aproveitar este momento. Tenho que ser rápido! Abro a porta do táxi e corro para fora sem pagar mesmo escutando os gritos e ameaças do condutor e as buzinas de outros carros que tentam evitar me atropelar… mas não há tempo a perder! Chego na calçada, escuto um pequeno acidente acontecendo e já furo a fila de um café badalado só para poder pegar um pedaço de guardanapo, preciso descarregar! Se não for agora… não sei quando vai ser mais! É agora! Ué? Onde está minha caneta? Será que ficou no táxi? Será que caiu na rua? Onde está minha carteira? Cruzes, fui roubado na hora que furei a fila? Não pode ser! Ou será que…?
E como em um instante, a inspiração se foi. Será que um dia ela voltará? Quem sabe!
Poético, não? Sim! Mas não é nada saudável, principalmente para alguém que gosta tanto de escritor, como eu, aceitar esse tipo de comportamento de mim mesmo. Às vezes temos que deixar de lado algumas idealizações, e acho que também devemos deixar até mesmo algumas recomendações de lado para a saúde de nossa escrita. Certa vez, Rose Lira me perguntou dentro de uma oficina de escrita terapêutica:
— Imagine e escreva o seu local ideal de escrita.
Lembro que logo me apressei para descrever um quarto pequeno, mas aconchegante em um mundo medieval, onde existia uma escrivaninha rústica, cheia de livros, papiros e afins de frente para uma grande janela onde eu pudesse ver um campo florido bem lindo e o movimento das pessoas… E por mais que aquilo tudo fosse lindo, pensei. “Ei, mas espere aí! Me conhecendo, eu com certeza iria ficar prestando atenção no vento dançando entre o campo florido, no movimento das pessoas na rua, na borboleta entrando pela janela, escutando o rangido da mesa de madeira…”, ou seja! Tudo menos meus livros e textos!
Então cancela tudo! Pode cancelar! Cancele meus projetos de um quarto rústico em um mundo medieval! Em vez disso, me amarre em uma camisa de força, coloque uma música clássica para tocar e fale que eu só vou sair de lá quando terminar o que tiver que ser feito! Creio que tem momentos que precisamos deixar a preguiça e a indisciplina de lado, sentar a buzanfa na cadeira, colocar a camisa de força, trincar os dentes e falar:
— Só me levanto daqui quando eu terminar!
Mas terminar o que? Não sei! Você tem um projeto ou não tem nada em mente? Sua mente está um quarto completamente claro ou escuro? Ah… entendi, é o bom e velho bloqueio criativo? Isso é fácil de resolver, sabia? Tem uma dica que eu escuto religiosamente quando essa grande muralha assustadora chamada de bloqueio criativo aparece diante de alguém.
Que tal escrever sobre não conseguir escrever?
Tá achando que é balela, né? Deixa eu te contar outra coisa, mas não conta pra ninguém tá? Foi assim que eu escrevi isso aqui.
Pedro C. Castellani
10 Comments
Caramba, isso tá tão perfeito!
Adorei!! Sempre te vi como escritor. Tu vai longe, Pedro!
Muito bom, continue assim! Que Deus o abençoe e o ilumine sempre. AVANTE!😁🙏
Vale pra vida! Preciso deixar de procrastinar muitos projetos que tenho é é esse o sentimento, me tranca e só deixa sair quando terminar! Mas ao mesmo tempo, preciso fazer disso um momento prazeroso, aí fica a dificuldade. É questão de prioridades mesmo, no meu caso. Mas que belo texto pra me fazer pensar sobre o assunto! Obrigada pela reflexão!
Imagina se conseguisse escrever 👏 texto brilhante!
Belíssimo texto, parece de um escritor bastante experiente, com certeza terá sucesso, as palavras combinam entre si, uma melodia , amei, Deus é contigo
Maravilha de texto que inspira a nao só escrever como parar de procrastinar a vida! Parabens!!
Simplesmente encantada com a forma que você escreve. Sempre admirei seus escritos e acredito muito em seu potencial, Caste. Eu precisava muito deste texto, pois por vezes me sinto da mesma forma. Te amo e te amo, para sempre ❤
Ver um sonho realizado em você Pedro não tem preço. Sendo meu filho, dobra a satisfação e orgulho.
A arte de resgatar palavras e sentimentos dos calabouços da alma é para poucos.
Meus parabéns.
Te amo!
Achei engraçado porque, no quesito escrever, sou estilo Stephen King – mas no quesito ler, gosto mais dos livros do George Martin kkkkkkkk Ain ain… Arrasou Pedro! é isso mesmo, quanto mais a gente escreve, mais se aprimora, até escrevendo sobre n saber o que escrever kkkkk Vamos nessa 🙂