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O que é preciso para escrever bem? É preciso viver!

Lá vem o seu Joãozinho, o poeta.

Era assim que eu via e ouvia muitas pessoas anunciando a chegada do meu avô materno aos locais por onde ele passava.

Com seus cabelos já brancos, os olhos azuis e o andar de passos curtos, seu João de Almeida era um pastor por formação e vocação, mas também um apaixonado por poesia e pela língua portuguesa. Apesar de tanta cultura e conhecimento que carregava consigo, devido ao notável hábito da leitura, ele jamais se esquecia de corrigir gentilmente aqueles que o chamavam de poeta.

  • Não sou poeta, apenas gosto de declamar poesias – dizia ele com um sorriso amistoso no rosto.

Por diversas vezes passei à porta de seu quarto e o flagrei ensaiando um texto de um autor que ele gostava.

  • O que o senhor está fazendo aí, vô – nós perguntávamos.
  • Ô, meu filho. Estou aqui ensaiando umas novas poesias para declamar. Vai que me aparece um casamento ou aniversário e me convidam para falar. Preciso estar preparado – ele respondia.

De fato, os casamentos que ele costumava celebrar na igreja tinham um toque todo especial, porque eram carregados de belas poesias, que embalavam assim o clima de romance da ocasião.

Apesar de toda sua simplicidade, nos aniversários de seus amigos, o rev. João era considerado presença ilustre, porque sempre abrilhantava a noite, declamando uma bela rima.

Porém, hoje entendo que a poesia não era apenas parte da memória de meu avô. Era bem mais que isso. Por mais que ele não fosse um escritor de suas próprias rimas, ele vivia a beleza da poesia no seu dia a dia.

Fosse pela sua generosidade de tratar bem a todos da vizinhança condomínio onde morava – desde os moradores, passando pelos seguranças até os zeladores – fosse pela sensibilidade de parar para apreciar o belo canto dos pássaros que visitavam seu quintal ou até mesmo por seus momentos silenciosos de introspecção… Tudo nele tinha um ar poético, gerava uma reflexão e o inspirava ainda mais para ensinar aos filhos e netos como é possível viver a poesia na prática.

Não sei se meu avô faleceu consciente de que ele me deixou um dos ensinamentos mais preciosos, inclusive para a minha vida profissional, mas hoje, quando me lembro dele, uma das lições que me vem à memória é que para escrever bem é preciso viver, ter experiências e uma paixão por compartilhá-las.

É, vô, se o senhor estivesse vivo hoje, teria de me corrigir novamente, porque eu também insistiria que o senhor é um poeta, não por poesias publicadas, mas sim por ter vivido a poesia todos os dias.

João Neto

3 Comments

  1. Leonora disse:

    Texto LINDO e verdadeiro! Que inspiração João Neto. PARABENS!

  2. Elaine disse:

    Lindo texto, João, também tenho essas lembranças do meu sogro, Reverendo João. Já com idade avançada declamava lindas e longas poesias… como eu admirava sua memória…

  3. JOSE ALTAMIR MARQUES disse:

    Olá João Neto,
    que belo texto, meu irmão, e, igualmente, o testemunho, maravilhoso! A Patrícia me fazia saber dessas virtudes do Rev. João de Almeida, tanto do encanto que, certamente, é o Casamento e como ele embelezava a Cerimônia, a ponto de Noivos preferirem ele como celebrante.
    Forte abraço,
    Deus o abençoe!

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